Autor: xana
São imagens do Chão (Terra) e do Céu (Ar) quando se elevam as formas que depois
descem ou flutuam, evoluem e param. Sob a força inestimável de plantas, insetos,
batráquios, répteis e demais seres a rastejarem, saltarem, suspensos ou a pousarem na terra.
São os reinos em que asa tartarugas sobem pela Água acima (charcos e rios grandes) e
olham o céu por cima da linha do horizonte. Mas, voltando à terra, eis a serpente que aguça
a cabeça, vendo-se o corpo sinuoso e esguio, igualmente em ascensão, circulando em redor
de folhas e caules e raízes. Há mais bichos, mas foi assim que começou o mito do Paraíso
que é também o mito da Queda. No Paraíso havia muita harmonia entre as espécies
animais e vegetais e marinhas e aéreas: uma verdadeira enciclopédia de intuições e
afinidades entre contrários. Não procuravam a coincidência dos opostos, como Nicolau de
Cusa quis, porque, na realidade, não havia qualquer necessidade disso. Pois, não havia gente
ainda, por isso, acreditava-se que não havia pensamento. parte de texto Maria Fátima Lambert
“Quantas paisagens”
Engrácia Cardoso e Délia de Carvalho. Exposição desenho e pintura, até 4 de Novembro. Centro para os assuntos da arte e Arquitetura.
Curadoria de Maria Luís Neiva
O tempo para fazer nascer
É do amor pela natureza que produzimos quando unificamos os elementos dispersos do mundo sensível, na expectativa de os elevar a um nível superior de realidade.
Olhar a paisagem com incerteza deu-me a possibilidade de pensar numa memória gráfica e textual, num percurso ao longo do qual vão sendo mapeadas as transições entre os estados ambíguos da paisagem e dos espaços habitados. Os desenhos consistem em registos livres, numa primeira fase eram esboços rápidos e também registos detalhados de plantas silvestres. A escolha da sobreposição e dos papeis rasgados permitem uma paisagem descontrolada, confusa, de certo modo caótica é ao mesmo tempo mais próxima do natural.
Exposição na Galeria, serigrafias pintadas, Jardim da Avenida de São Dâmaso, Guimarães. convite da fuga pela escada
O tempo para fazer nascer
É do amor pela natureza que produzimos quando unificamos os elementos dispersos do mundo sensível, na expectativa de os elevar a um nível superior de realidade.
Coloco o corpo num campo aberto a experiências, num equilíbrio que condensa o significado, a contemplação e a frescura das sensações fugazes. Parto do turbilhão de emoções e do caos da imaginação para a ação em que a interpretação e a criação fragmentada de um conjunto de ideias se desenrolaram pela praxis, tecendo-se e fundindo-se novamente com o universo (o todo que é a natureza). A percepção que transforma as peças em unidades isoladas ou em porções da unidade global é o primeiro passo – ainda que afetivamente neutro – da intuição estética. A este passo, sucedem-se a impressão sentida e o valor reconhecido enquanto ingredientes de uma visão em crescente aprofundamento. A visibilidade de uma paisagem e a irradiação afetiva que dela emana são as faces do mesmo sentimento, tudo está ligado ao todo.
Engrácia Cardoso, Lisboa, 2022